CURIOSIDADE: CÂNCER: por quê?



CÂNCER: POR QUÊ???



Essa pergunta ainda intriga médicos, cientistas e pacientes. Apesar dos avanços consideráveis no tratamento e no diagnóstico desse mal, os especialistas ainda não têm respostas definitivas sobre a sua gênese.




O organismo humano passa por uma renovação constante. Isso porque a maioria de seus 100 trilhões de células têm prazo de validade. Nesse meio-tempo, obedecendo a comandos moleculares, essas unidades microscópicas se dividem, dando origem a novos exemplares. Mas alguns deles podem sair da linha de montagem com defeito de fabricação. As células defeituosas, no entanto, costumam ser pouco longevas. O organismo dispõe de vários mecanismos para eliminá-las, não permitindo que elas se reproduzam, explica o oncologista clínico Artur Katz, do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. E esses mecanismos fi scalizam uns aos outros, se complementando.


É como se fosse um controle de qualidade. Ele precisa ser perfeito, acrescenta o cirurgião oncologista Benedito Mauro Rossi, do Hospital A.C. Camargo, na capital paulista. Veja o caso das células do intestino, continua Rossi. Elas existem aos milhões e se renovam a cada 48 horas. Imagine esse processo ad continuum? Daí a necessidade de uma monitoração constante do próprio corpo.


Dessa forma, uma célula recém-saída do forno e que foge aos padrões de excelência, com profundas alterações em seu material genético, se autodestrói. Esse suicídio celular, conhecido como apoptose, vem à tona graças a uma série de reações deslanchadas por uma proteína encontrada no núcleo, a p53. Só que, por algum motivo, todo esse esquema de proteção às vezes entra em pane e a célula defeituosa começa a se multiplicar loucamente. É a gênese do tumor. Mas por que isso acontece? E por que algumas pessoas desenvolvem câncer e outras não? Como preveni-lo? O neuropsiquiatra francês David Servan-Schreiber foi atrás de algumas respostas para essas questões.


Servan-Schreiber lançou na França, no segundo semestre do ano passado, o livro Anticancer (Éditions Robert Laffont) anticâncer, em português , obra que já vendeu quase 800 mil exemplares por lá. Aos 46 anos, ele descobriu que tinha um tumor cerebral aos 31, no auge de sua carreira científica. Quase duas décadas mais tarde e depois de uma recidiva, o neuropsiquiatra mergulhou numa série de estudos sobre a doença e chegou à conclusão de que hábitos como a alimentação e afins, mais do que os genes, são os grandes responsáveis pelo crescimento de casos de tumores, sobretudo nos países ocidentais. Servan-Schreiber cita os resultados de um trabalho dinamarquês para comprovar sua tese.




DE PAI PARA FILHO?




Publicada no periódico americano The New England Journal of Medicine, a pesquisa analisou os dados genéticos dos pais biológicos de mais de mil crianças adotadas e constatou: ter herdado os genes de pai ou mãe natural mortos de câncer antes dos 50 anos não influencia tanto o risco de desenvolver o mal. Na verdade, os cientistas têm demonstrado que essa possibilidade é de 15%. Por outro lado, a morte de um pai adotivo (que transfere seu estilo de vida, mas não os genes) em razão de um tumor multiplica por cinco a probabilidade de o filho sucumbir ao mesmo problema, escreve o autor.


Assim sendo, também baseado em evidências científicas, Servan-Schreiber descreve em seu livro estratégias para tentar prevenir tumores ou, no caso de quem já enfrentou um, para evitar uma recaída (veja o quadro à esquerda). Elas vão de ajustes na dieta, com ênfase no consumo de substâncias que afastam o mal, até o papel das emoções tudo para reforçar nossas defesas naturais contra a doença.


A maioria dos oncologistas está de acordo que, sim, os hábitos, principalmente o tabagismo, têm um grande peso na conflagração da enfermidade. Mais de 90% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados com o cigarro, revela o oncologista Luiz Augusto Maltoni Júnior, coordenador de assistência do Instituto Nacional de Câncer. A ingestão de carnes processadas, como salame e mortadela, também representa um perigo para o intestino. Se o consumo for diário, e dependendo de sua proporção no cardápio, aumenta-se de 30 a 40 vezes o risco de tumores nesse órgão, diz Benedito Mauro Rossi. O motivo: conservantes como os nitritos, presentes nesses alimentos, agridem as mucosas intestinais.


Exagerar nas porções de gordura também não é nada bom. Isso porque o intestino passa a trabalhar mais lentamente, o que facilita a absorção de substâncias cancerígenas, explica o oncologista clínico Francisco Miguel Correa, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Além disso, quando esse órgão não trabalha direito, as fezes ficam em maior contato com suas paredes, outro fator que ajudaria a disparar a doença nesse órgão.
Já virou lugar-comum, mas a obesidade, fator de risco para um sem-número de problemas, também elevaria o risco de câncer. Quem tem muitos quilos a mais costuma desenvolver resistência à insulina. Quer dizer, grande quantidade desse hormônio fica circulando sem conseguir realizar sua função primordial, que é botar o açúcar para dentro das células. Em excesso e mal utilizada, a insulina favorece o crescimento celular em geral, revela Benedito Mauro Rossi.




O PAPEL DAS EMOÇÕES




O neuropsiquiatra David Servan-Schreiber acredita que o estresse emocional pode contribuir para o surgimento de um câncer, mas não causá-lo em si. Um quadro depressivo muitas vezes mina o batalhão de defesa do corpo, disseram em quase uníssono os especialistas ouvidos por SAÚDE!. A observação é empírica, mas constato que os pacientes que se entregam à doença geralmente apresentam mais complicações, diz Luiz Augusto Maltoni Júnior. Não se deve temer o diagnóstico, mas, sim, estar predisposto a seguir o tratamento. Afi nal, as taxas de sucesso chegam à média de 50%, considerando todos os tipos de tumor. Infelizmente, ainda não é possível falar em cura. Até porque não se trata de um único mal, mas de um conjunto de mais de 100 doenças. A melhor arma é velha conhecida: submeter-se periodicamente a exames preventivos, como a mamografia e o toque retal, para flagrar o inimigo enquanto há grandes chances de controlá-lo.




ESTRATÉGIAS ANTICÂNCER






Veja o que propõe o neuropsiquiatra David Servan-Schreiber para barrar o mal. O mix sugerido por ele contribuiria para reduzir inflamações associadas à doença e reforçar as células de defesa:



• Quando possível, tente evitar produtos químicos. Por exemplo: depois de lavagens a seco, deve-se deixar arejar as roupas antes de guardá-las no armário.
• Consuma de preferência alimentos orgânicos e reduza a ingestão de açúcar, farinhas refinadas e fontes de ômega-6, como o óleo de girassol.
• Incremente o prato com alimentos ricos em ômega-3, como o salmão.
• Exercite-se de 20 a 30 minutos por dia e tome sol por pelo menos 20 minutos, o que ativa a produção de vitamina D.
• Purifique a água da torneira com um filtro de carbono ou beba água mineral.
• Pratique algum método de relaxamento, como ioga e meditação.
• Libere-se do sentimento de impotência tente resolver os traumas passados, aprenda a aceitar seus sentimentos e tente encontrar uma pessoa com quem possa compartilhar suas emoções.



2º ANO - VÍRUS

VÍRUS





Vírus é uma partícula basicamente protéica que pode infectar organismos vivos. Vírus são parasitas obrigatórios do interior celular e isso significa que eles somente reproduzem-se pela invasão e possessão do controle da maquinaria de auto-reprodução celular. O termo vírus geralmente refere-se às partículas que infectam eucariontes (organismos cujas células têm carioteca), enquanto o termo bacteriófago ou fago é utilizado para descrever aqueles que infectam procariontes (domínios bacteria e archaea). Tipicamente, estas partículas carregam uma pequena quantidade de ácido nucléico (seja DNA ou RNA, ja se há conhecimento hoje de vírus que possuem os dois) cercada por alguma estrutura protetora consistente de proteína também conhecida como envelope protéico ou cápsula protéica; ou feita de proteína e lipídio. Das 1.739.600 espécies de seres vivos existentes, os vírus representam 3.600 espécies.



O capsídeo e o envelope viral



O capsídeo é formado por proteínas. Pode ter estrutura helical, icosaédrica e outras, e é geralmente extremamente regular. Em muitos virus o capsídeo é a estrutura externa, noutros casos, existe o envelope de estrutura bílipidica composto por fosfolípidos e algumas proteínas membranares, semelhante às membranas celulares das células, de quem é "roubado". O capsídeo e o envelope guardam o frágil ácido nucleico, DNA ou RNA.



Esta porção periférica possibilita ao vírus identificar as células que ele pode parasitar e, em certos vírus, facilita a penetração nas mesmas.
Os príons (ou priões), agentes sub-virais, não possuem ácido nucleico. São proteínas alteradas que têm a capacidade de converter proteínas semelhantes mas não alteradas à sua configuração insolúvel, precipitando em cristais que causam danos às células.



O genoma viral




Os vírus e agentes sub-virais possuem apenas pouco ácido nucleico, e até pouco tempo acreditava-se que possuíam apenas um deles, ou DNA ou RNA, entretanto, descobriram-se vírus com DNA e RNA, ao mesmo tempo (Os príons, agentes sub-virais, não possuem ácido nucleico algum), diferente dos outros seres vivos, que possuem os dois .
É nesta porção central possuidora da informação genética, que estão contidas, em código, todas as informações necessárias para produção de outros vírus iguais.





BACTERIÓFAGOS





Um fago (também chamado bacteriófago) é um pequeno vírus que infecta apenas bactérias.



Fagos infectam especificamente bactérias. Alguns fagos são virulentos, significando que uma vez que a célula tenha sido invadida, eles imediatamente iniciam seu processo de reprodução, e em pouco tempo "lisam" (destroem) a célula, lançando novos fagos. Alguns fagos podem ao contrário entrar em um estado relativamente inofensivo, e então integrar seu material genético no DNA cromossomal da bactéria hospedeira ou estabelecendo-se a si mesmos como plasmídeos. Estes fagos endógenos, referidos como profagos, são então copiados a cada divisão celular junto com o DNA da bactéria hospedeira. Eles não matam a célula, porém monitoram (via algumas proteínas que eles codificam para isto) o estado de seu hospedeiro. Quando a célula do hospedeiro mostra sinais de stress (significando que ela esteja próxima de sua morte), os fagos endógenos tornam-se ativos novamente e iniciam seu ciclo reprodutivo, resultando na lise de célula hospedeira. Um exemplo é o fago lambda da E. coli.



Algumas vezes, mesmo profagos podem prover benefícios para as células hospedeiras enquando dormentes, pela adição de novas funções ao genoma da bactéria, um fenômeno chamado conversão lisogênica. Um exemplo famoso é a inofensiva bactéria Vibrio, que se torna Vibrio cholerae por um fago, causando a cólera.




Fagos são muito importantes na
biologia molecular sendo utilizados como vetores de clonagem para inserir DNA bas bactérias. Eles estão sendo também avaliados por pesquisadores médicos como uma alternativa aos antibióticos para tratar infecções por bactérias (porque matar bactérias é o que os fagos fazem de melhor).
Phage display é um teste para investivar interações de proteínas pela integração de múltiplos genes de um banco de genes em fagos.





Vírus: seres vivos ou seres não vivos?




Vírus não têm qualquer atividade metabólica quando fora da célula hospedeira: eles não podem captar nutrientes, utilizar energia ou realizar qualquer atividade biossintética. Eles obviamente se reproduzem, mas diferentemente de células, que crescem, duplicam seu conteúdo para então dividir-se em duas células filhas, os vírus replicam-se através de uma estratégia completamente diferente: eles invadem células, o que causa a dissociação dos componentes da partícula viral; esses componentes então interagem com o aparato metabólico da célula hospedeira, subvertendo o metabolismo celular para a produção de mais vírus. Há grande debate na comunidade científica sobre se os vírus devem ser considerados seres vivos ou não, e esse debate e primariamente um resultado de diferentes percepções sobre o que vem a ser vida, em outras palavras, a definição de vida. Aqueles que defendem a idéia que os virus não são vivos argumentam que organismos vivos devem possuir características como a habilidade de importar nutrientes e energia do ambiente, devem ter metabolismo (um conjunto de reações químicas altamente interrelacionadas através das quais os seres vivos constroem e mantêm seus corpos, crescem e performam inúmeras outras tarefas, como locomoção, reprodução, etc.); organismos vivos tambem fazem parte de uma linhagem continua, sendo necessariamente originados de seres semelhantes e, através da reprodução, gerar outros seres semelhantes (descendência ou prole), etc.



Os vírus preenchem alguns desses critérios: são parte de linhagens contínuas, reproduzem-se e evoluem em resposta ao ambiente, através de variabilidade e seleção, como qualquer ser vivo. Porém, não têm metabolismo próprio, por isso deveriam ser considerados "particulas infecciosas", ao invés de seres vivos propriamente ditos. Muitos, porém, não concordam com essa perspectiva, e argumentam que uma vez que os vírus são capazes de reproduzir-se, são organismos vivos; eles dependem do maquinário metabólico da célula hospedeira, mas até ai todos os seres vivos dependem de interações com outros seres vivos. Outros ainda levam em consideração a presenca massiva de vírus em todos os reinos do mundo natural, sua origem-aparentemente tão antiga como a própria vida-sua importância na história natural de todos os outros organismos, etc.



Conforme já mencionado, diferentes conceitos a respeito do que vem a ser vida formam o cerne dessa discussão. Definir vida tem sido sempre um grande problema, e já que qualquer definição provavelmente será evasiva ou arbitraria, dificultando assim uma definição exata a respeito dos vírus.

HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DA VIDA

Três idéias sobre a origem da vida


Há três posições “filosóficas” em relação à origem da vida. A primeira relaciona-se aos mitos da “criação”, que afirmam que a vida foi criada por uma força suprema ou ser superior; essa hipótese, evidentemente, foge ao campo de ação do raciocínio científico, não podendo ser testada e nem refutada pelos métodos usados pela ciência.
Uma segunda posição se refere à possibilidade de a vida ter se originado fora do planeta Terra e ter sido “semeada” por pedaços de rochas, como meteoritos, que teriam trazido “esporos” ou outras formas de vida alienígena. Esses teriam evoluído nas condições favoráveis da Terra, até originar a diversidade de seres vivos que conhecemos.
Um dado interessante: chegam todos os anos, à superfície da Terra, ao redor de mil toneladas de meteoritos. Em algumas dessas rochas, foram encontradas substâncias orgânicas, como aminoácidos e bases nitrogenadas. Ficou bastante claro, a partir da década de 70, que a matéria orgânica é muito mais freqüente no universo do que se acreditava antigamente. Um eminente astrônomo inglês, sir Fred Hoyle, defende a idéia de que material biológico, como vírus, poderia ter chegado do espaço; Hoyle chega a aceitar que isso aconteceria ainda hoje e que de alguma forma esse material “genético” novo poderia ser incorporado aos organismos existentes, modificando assim sua evolução!
De qualquer forma, essas idéias não são seriamente consideradas pela maioria dos cientistas; para começo de conversa, o aquecimento de qualquer corpo que entrasse na atmosfera terrestre seria de tal ordem, que destruiria qualquer forma de vida semelhante às que conhecemos hoje. Por outro lado, aceitar que a vida apareceu “fora” da Terra somente “empurraria” o problema para diante, já que não esclareceria como a vida teria surgido fora daqui.
A terceira posição, a mais em voga hoje, aceita que a vida pode ter surgido espontaneamente sobre o planeta Terra, através da evolução química de substâncias não vivas. Não é fácil ou seguro verificar eventos que ocorreram há bilhões de anos, quando nosso planeta era muito diferente do que é hoje; no entanto, os cientistas conseguiram reproduzir algumas das condições originais em laboratório e descobriram muitas evidências geológicas, químicas e biológicas que reforçam essa hipótese. Essa terceira posição foi defendida pela primeira vez pelo cientista russo Oparin, em 1936, como veremos nos itens a seguir.

Algumas pistas sobre o problema


Nos últimos 120 anos, várias idéias sobre a origem da Terra, sua idade, as condições primitivas da atmosfera foram surgindo. Em particular, verificou-se que os mesmos elementos que predominam nos organismos vivos (carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio) também existem fora deles; nos organismos vivos estes elementos estão combinados de maneira a formar moléculas complexas, como proteínas, polissacarídeos, lipídios e ácidos nucléicos. A diferença básica, então, entre matéria viva e matéria bruta estaria sobretudo ao nível da organização desses elementos. O químico Wöhler, em 1828, já havia fornecido a seguinte pista: substâncias “orgânicas” ou complexas, como a uréia, podem ser formadas em condições de laboratório a partir de substâncias simples, “inorgânicas”. Se as condições adequadas surgiram da Terra, no passado, então a vida poderia ter aparecido do inorgânico.
Uma simples análise das características que os seres vivos exibem hoje mostra, independentemente de sua forma ou tamanho, a presença dos mesmos “tijolos” básicos em todos eles: açúcares simples, os 20 tipos de aminoácidos, os 4 nucleotídeos de DNA e os 4 de RNA, e os lipídios. Ora, depois da pista dada por Wöhler, a que nos referimos, os químicos descobriram que esses compostos podem ser feitos em laboratório, se houver uma fonte de carbono, de nitrogênio, e uma certa quantidade de energia disponível. Assim sendo, se as condições adequadas tivessem estado presentes, no passado da Terra, essas substâncias poderiam ter se formado sem grandes dificuldades.
Várias dessas idéias foram organizadas e apresentadas de forma clara e coerente pelo bioquímico russo Aleksandr I. Oparin, em 1936, no seu livro “A origem da vida”. Repare que, na época, ainda não se sabia que os ácidos nucléicos constituem o material genético dos seres vivos. Vamos enumerar os pontos fundamentais das idéias que Oparin apresenta.

As idéias de Oparin

1) A idade aproximada da Terra é de 4,5 bilhões de anos, tendo a crosta se solidificado há uns 2,5 bilhões de anos.
2) A composição da atmosfera primitiva foi provavelmente diferente da atual; não havia nela O2 ou N2; existia amônia (NH3), metano (CH4), vapor de água (H2O) e hidrogênio (H2).
3) O vapor de água se condensou à medida que a temperatura da crosta diminuiu. Caíram chuvas sobre as rochas quentes, o que provou nova evaporação, nova condensação e assim por diante. Portanto, um ativo ciclo de chuvas.
4) Radiações ultravioleta e descargas elétricas das tempestades agiram sobre as moléculas da atmosfera primitiva: algumas ligações químicas foram desfeitas, outras surgiram; apareceram assim novos compostos na atmosfera, alguns dos quais orgânicos, como os aminoácidos, por exemplo.
5) Aminoácidos e outros compostos foram arrastados pela água até a crosta ainda quente. Compostos orgânicos combinaram-se entre si, formando moléculas maiores, como os “proteinóides” (ou substâncias similares a proteínas).
6) Quando a temperatura das rochas tornou-se inferior a 100oC, já foi possível a existência de água líquida na superfície do globo: os mares estavam se formando. As moléculas orgânicas foram arrastadas para os mares. Na água, as probabilidades de encontro e choques entre moléculas aumentaram muito; formaram-se agregados moleculares maiores, os coacervados.
7) Os coacervados ainda não são seres vivos; no entanto eles continuam se chocando e reagindo durante um tempo extremamente longo; algum coacervado pôde casualmente atingir a complexidade necessária (lembre-se de que a diferença entre vida e não vida é mera questão de organização). Daí em diante, se tal coacervado teve a propriedade de duplicar-se, pode-se admitir que surgiu a vida, mesmo que sob uma forma extremamente primitiva.




A comprovação experimental

O bioquímico Miller tentou reproduzir em laboratório algumas das condições previstas por Oparin. Construiu um aparelho, que era um sistema fechado, no qual fez circular durante 7 dias uma mistura de gases: metano, hidrogênio, amônia e vapor de água estavam presentes. Um reservatório de água aquecido à temperatura de ebulição permitia a formação de mais vapor de água, que circulava arrastando os outros gases.

Num certo lugar do aparelho, a mistura era submetida a descargas elétricas constantes, simulando os “raios” das tempestades que se acredita terem existido na época. Um pouco adiante, a mistura era esfriada e, ocorrendo condensação, tornava-se novamente líquida. Ao fim da semana, a água do reservatório, analisada pelo método da cromatografia, mostrou a presença de muitas moléculas orgânicas, entre as quais alguns aminoácidos.
Miller, com esta experiência, não provava que aminoácidos realmente se formaram na atmosfera primitiva; apenas demonstrava que, caso as condições de Oparin tivessem se verificado, a síntese de aminoácidos teria sido perfeitamente possível.
Fox, em 1957, realiza a seguinte experiência: aquece uma mistura seca de aminoácidos e verifica que entre muitos deles acontecem ligações peptídicas, formando-se moléculas semelhantes a proteínas (lembre-se de que na ligação peptídica ocorre perda de água ou desidratação). Os resultados de Fox reforçam a seguinte idéia: se, de fato, aminoácidos caíram sobre as rochas quentes, trazidos pela água da chuva, eles poderiam ter sofrido combinações formando moléculas maiores, os proteinóides, que acabariam sendo carregadas aos mares em formação. Percebe-se que Fox tenta testar parte das idéias de Oparin, e seu ponto de partida foi, sem dúvida, a experiência de Miller.
A química dos colóides explica e prevê a reunião de grandes moléculas em certas condições, formando os agregados que chamamos coacervados.
É evidente, porém, que a última etapa da hipótese de Oparin nunca poderá ser testada em laboratório; em outros termos, para conseguirmos que um entre trilhões de coacervados se transformasse, por acaso, em um ser vivo muito simples, teríamos de dispor de um laboratório tão grande quanto os mares primitivos, que contivesse, portanto, um número infinitamente grande de coacervados; além disso, teríamos de dispor de um tempo infinitamente grande, que possibilitasse inúmeras colisões e reações químicas que foram necessárias para se obter pelo menos um sucesso.
Será que, devido à impossibilidade de teste experimental, devemos repelir “a priori” esta fase? Podemos pelo menos pensar nela em termos estatísticos. Vamos dar a palavra a um célebre biólogo, George Wald, que examinou minuciosamente o assunto.

ORIGEM DA VIDA

ABIOGÊNESE X BIOGÊNESE

Ao longo dos séculos, várias hipóteses foram formuladas por filósofos e cientistas na tentativa de explicar como teria surgido a vida em nosso planeta. Até o século XIX, imaginava-se que os seres vivos poderiam surgir não só a partir do cruzamento entre si, mas também a partir da matéria bruta, de uma forma espontânea.
Essa idéia, proposta há mais de 2 000 anos por Aristóteles, era conhecida por geração espontânea ou abiogênese. Os defensores dessa hipótese supunham que determinados materiais brutos conteriam um "princípio ativo", isto é, uma "força" capaz de comandar uma série de reações que culminariam com a súbita transformação do material inanimado em seres vivos.
O grande poeta romano Virgílio (70 a.C.-19 a.C.), autor das Écoglas e da Eneida, garantia que moscas e abelhas nasciam de cadáveres em putrefação. Já na Idade Média, Aldovandro afirmava que, o lodo do fundo das lagoas, poderiam, poderiam nascer patos e morcegos. O padre Anastásio Kircher (1627-1680), professor de Ciência do Colégio Romano, explicava a seus alunos que do pó de cobra, espalhado pelo chão, nasceriam muitas cobras.
No século XVII, o naturalista Jan Baptiste van Helmont (1577-1644), de origem belga, ensinava como produzir ratos e escorpiões a partir de uma camisa suada, germe de trigo e queijo.
Nesse mesmo século, começaram a surgir sábios com novas idéias, que não aceitavam a abiogênese e procuravam desmascará-la, com suas experiências baseadas no método científico.


Contestando a Abiogênese: Pesquisadores tentam provar a Biogênese.


REDI


Em meados do século XVII, o biólogo italiano Francesco Redi (elaborou experiências que, na época, abalaram profundamente a teoria da geração espontânea.
Colocou pedaços de carne no interior de frascos, deixando alguns abertos e fechando outros com uma tela (gaze).
Observou que o material em decomposição atraía moscas, que entravam e saíam ativamente dos frascos abertos. Depois de algum tempo, notou o surgimento de inúmeros "vermes" deslocando-se sobre a carne e consumindo o alimento disponível.
Nos frascos fechados, porém, onde as moscas não tinham acesso à carne em decomposição, esses "vermes" não apareciam.
A experiência de Redi favoreceu a biogênese, teoria segundo a qual a vida se origina somente de outra vida preexistente.
Apesar da repercussão das experiências de Redi, sua idéia não foi aceita na época!

NEEDHAM



Um religioso chamado John Needham fez em 1745 um experimento cujos resultados pareciam comprovar as idéias da abiogênese. Vários caldos nutritivos, como sucos de frutas e extrato de galinha, foram colocados em tubos de ensaio, aquecidos durante um certo tempo e em seguida selados. A intenção de Needham, ao aquecer, ora obviamente a de provocar a morte de organismos possivelmente existentes nos caldos; o fechamento dos frascos destinava-se a impedir a contaminação por micróbios externos. Apesar disso, os tubos de ensaio, passados alguns dias, estavam turvos e cheios de microorganismos, o que parecia demonstrar a verdade da geração espontânea.

SPALLANZANI

Cerca de 25 anos depois, o italiano Lazaro Spallanzani repetiu as experiências de Needham. A diferença no seu procedimento foi a de ferver os líquidos durante uma hora, não se limitando a aquecê-los; em seguida os tubos foram fechados hermeticamente. Líquidos assim tratados mantiveram-se estéreis, isto é, sem vida, indefinidamente. Desta forma, Spallanzani demonstrava que os resultados de Needham não comprovavam a geração espontânea: pelo fato de aquecer por pouco tempo, Needham não havia destruído todos os micróbios existentes, dando-lhes a oportunidade de proliferar novamente.


Needham, porém, responde às críticas de Spallanzani com argumentos aparentemente muito fortes:

“...Spallanzani... selou hermeticamente dezenove frascos que continham diversas substâncias vegetais e ferveu-os, fechados, por uma hora. Mas, pelo método de tratamento pelo qual ele torturou suas dezenove infusões vegetais, fica claro que enfraqueceu muito ou até destruiu a força vegetativa das substâncias em infusão...”
Repare no termo “força vegetativa”, que era usado como sinônimo de princípio ativo. O aquecimento excessivo, segundo Needham, havia destruído o princípio ativo; sem princípio ativo, nada de geração espontânea! É interessante notar que o próprio Spallanzani não soube refutar esses argumentos, ficando as idéias da abiogênese consolidadas.

PASTEUR





O cientista francês Louis Pasteur conseguiu, por volta de 1860, mostrar definitivamente a falsidade das idéias sobre geração espontânea da vida. Seus experimentos foram bem semelhantes aos de Spallanzani, porém com alguns aperfeiçoamentos. Vejamos como Pasteur descreve suas experiências.
“Coloquei em frascos de vidro os seguintes líquidos, todos facilmente alteráveis, em contato com o ar comum: suspensão de lêvedo de cerveja em água, suspensão de lêvedo de cerveja em água e açúcar, urina, suco de beterraba, água de pimenta. Aqueci e puxei o gargalo do frasco a dar-lhe curvatura; deixei o líquido ferver durante vários minutos até que os vapores saíssem livremente pela estreita abertura superior do gargalo, sem tomar nenhuma outra precaução. Em seguida, deixei o frasco esfriar. É uma coisa notável, capaz de assombrar qualquer pessoa acostumada com a delicadeza das experiências relacionadas à assim chamada geração espontânea, o fato de o líquido em tal frasco permanecer imutável indefinidamente... Parecia que o ar comum, entrando com força durante os primeiros momentos (do resfriamento), deveria penetrar no frasco num estado de completa impureza. Isto é verdade, mas ele encontra um líquido numa temperatura ainda próxima do ponto de ebulição.
A entrada do ar ocorre, então, mais vagarosamente e, quando o líquido se resfriou suficientemente, a ponto de não mais ser capaz de tirar a vitalidade dos germes, a entrada do ar será suficientemente lenta, de maneira a deixar nas curvas úmidas do pescoço toda a poeira (e germes) capaz de agir nas infusões...
Depois de um ou vários meses no incubador, o pescoço do frasco foi removido por golpe dado de tal modo que nada, a não ser as ferramentas, o tocasse, e depois de 24, 36 ou 48 horas, bolores se tornavam visíveis, exatamente como no frasco aberto ou como se o frasco tivesse sido inoculado com poeira do ar.”
Com esta experiência engenhosa, Pasteur também demonstrava que o líquido não havia perdido pela fervura suas propriedades de abrigar vida, como argumentaram alguns de seus opositores. Além disso, não se podia alegar a ausência do ar, uma vez que este entrava e saía livremente (apenas estava sendo filtrado).

ótimo video sobre como a vida surgiu na Terra - CONFIRAM!